
Flow (2024), longa-metragem de animação, coprodução Bélgica, França e Letônia, distribuído pela Mares Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 20 de fevereiro de 2025, com classificação indicativa livre e 85 minutos de duração.
Olhar para o próprio reflexo é uma prova imediata da sua existência no presente, do espaço que você ocupa no mundo e talvez até mesmo pistas de como o mundo o vê. E através desse milagre da autoconsciência, você pode talvez estender a empatia àqueles ao seu redor, que também estão lidando com os desafios constantes de estar vivo.
O longa-metragem de animação, sem diálogos, do diretor letão Gints Zilbalodis, “Flow”, é o candidato da Letônia para o Oscar 2025, nas categorias Melhor Filme de Animação e Melhor Filme Internacional.
A clareza narrativa dá à fábula um toque atemporal, ao mesmo tempo em que inova e expande a imersão visual no seu meio. Com um gato preto expressivo como protagonista, que presumivelmente tinha um dono humano adorável, “Flow” nos apresenta uma terra desprovida de pessoas. Há indícios de que humanos já habitaram essa área florestal, mas provavelmente estamos vendo uma linha do tempo pós-humanidade, enquanto a Terra se recupera de nossas transgressões.
À medida que a água sobe, inundando tudo em seu caminho, o gato se encontra literalmente em uma ilha isolada. Uma estátua gigante de um gato – um monumento aos companheiros felinos – está quase completamente submersa, forçando o herói a deixar seu isolamento confortável para sobreviver. Estruturas artificiais desaparecendo debaixo d’água, engolidas pelo oceano, sugerem a necessidade de afogar o próprio ego, abrindo espaço para uma mentalidade coletiva enquanto enfrentamos a extinção. Mais tarde, a insignificância das ambições humanas em relação à natureza é ressaltada quando uma baleia nada pelas ruínas do que antes eram as ruas de uma cidade.
O gato encontra segurança em um veleiro, onde uma capivara letárgica flutua pela paisagem inundada. Logo, um cão labrador perpetuamente alegre, um majestoso pássaro secretário e um lêmure indisciplinado se juntam a eles. À distância, uma série de picos de montanhas estreitos e altos parece guiar esses aventureiros peludos e emplumados, que precisam confiar uns nos outros. Seus relacionamentos são testados e fortalecidos por meio de gestos sutis, como esfregar de narizes, compartilhar comida generosamente e, em momentos de maior risco, enfrentar um bando para proteger um novo amigo inocente. O pássaro assume uma posição de liderança, com sua postura ereta e dominante. Cada espécie é animada de maneira a mostrar sua personalidade única, e a curiosidade do gato sobre seus companheiros de viagem e os arredores, com seus grandes olhos observadores, ajuda a nutrir esses laços.
O movimento envolvente e fluido da câmera pelos ambientes luminosos cria a ilusão de que os eventos estão ocorrendo espontaneamente diante de nossos olhos, mesmo sendo impecavelmente orquestrados em todos os detalhes. O estilo de animação de Zilbalodis capta a imprevisibilidade da vida com uma naturalidade deslumbrante, seguindo as criaturas em longas tomadas que vão da água para a segurança de seu barco. Os personagens possuem um design gráfico estilizado, especialmente perceptível na forma como a luz interage com as cores de seus corpos.
A atenção de Zilbalodis aos comportamentos dos animais e como eles afetam uns aos outros cria um microcosmo vibrante, uma sociedade em miniatura a bordo da embarcação. As ações de cada entidade repercutem em toda a tripulação, como ao permitir que novos integrantes entrem em seu ecossistema. Conflitos surgem ocasionalmente, como em qualquer grupo, mas, o diretor concebe a essa gangue diversa de amigos as melhores qualidades. Ele vai além de apenas representar o instinto de sobrevivência, explorando a interioridade e espiritualidade dos personagens, como em um sonho onde o gato vê um rebanho de veados fugindo da água agitada e em uma linda cena que descreve a morte.
A trilha sonora, co-composta por Zilbalodis e Rihards Zaļupe, é utilizada esporadicamente para complementar a rica paisagem sonora, ressoando com um minimalismo sublime que amplifica tanto a tensão quanto a tranquilidade.
Ao fazer caretas em um espelho de mão deixado pelos antigos donos do barco, o lêmure parece afirmar sua personalidade, compartilhando a descoberta com os outros de forma altruísta. É como se esses animais refletissem nossas qualidades mais nobres; em seus reflexos, também temos a oportunidade de refletir. Em sua sabedoria tácita, eles nos mostram que só podemos nos salvar se nos virmos como parte de um todo, e não como facções distintas em guerra por trivialidades. Diante da iminente crise climática e de tantos outros cataclismos que assolam nossa realidade, só teremos uns aos outros para sobreviver.
Em resumo, “Flow”, mesmo sendo uma animação sem diálogos, diz tudo o que precisa ser dito. Traz uma perspectiva esperançosa, sugerindo que as tempestades não serão permanentes e que a vida, em toda a sua glória e tragédia, continuará a fluir.
*Este texto foi elaborado com o auxílio de uma inteligência artificial para garantir maior precisão e clareza na comunicação (IA).
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