Ainda Temos o Amanhã (por Casal Doug Kelly)

Ainda Temos o Amanhã emerge como uma homenagem contemporânea ao Neorrealismo Italiano, não apenas na estética, mas também na narrativa que explora as complexidades da vida pós-guerra. A diretora e protagonista Paola Cortellesi apresenta uma visão íntima da luta de Delia, uma mulher presa nas convenções sociais de sua época, enquanto sonha com um futuro de liberdade e autonomia.

O filme, embora ancorado na realidade da Roma dos anos 40, dialoga com questões atemporais de identidade e liberdade feminina. A escolha de filmar em preto e branco e a inicial janela de aspecto 4:3 são acenos inteligentes ao passado, mas a transição para uma tela cheia é um lembrete de que a história de Delia, embora ambientada no passado, ressoa com o presente.

A performance de Cortellesi como Delia é excelente, capturando a essência de uma mulher dividida entre o dever e o desejo de auto-realização. A direção de fotografia do filme complementa sua atuação, com uma paleta de cores que reforça o tom melancólico da narrativa. A trilha sonora, embora anacrônica, serve como um contraponto emocional que reflete a turbulência interna de Delia. O filme habilmente entrelaça o pessoal com o político, destacando a violência doméstica e a marginalização das mulheres como temas centrais, sem perder de vista a humanidade de seus personagens.

No entanto, o longa não está isento de falhas. Em alguns momentos, o ritmo do filme parece desigual, oscilando entre cenas introspectivas e momentos de tensão dramática. Além disso, embora a intenção de Cortellesi de homenagear o Neorrealismo seja clara, o filme às vezes luta para encontrar um equilíbrio entre a reverência ao movimento e a necessidade de forjar sua própria identidade cinematográfica. Apesar dessas críticas, o filme permanece uma obra provocativa que desafia os espectadores a refletir sobre o passado e o presente das lutas femininas.

Em suma, “Ainda Temos o Amanhã” é uma adição valiosa ao cinema italiano contemporâneo, oferecendo uma perspectiva fresca sobre temas históricos com uma execução que é tanto uma homenagem quanto uma reinvenção. Cortellesi, em sua estreia na direção, demonstra uma compreensão profunda do poder do cinema em evocar empatia e provocar discussão, garantindo que a história de Delia, e as questões que ela levanta, permaneçam relevantes muito tempo após os créditos finais.

Publicado originalmente em https://www.pegaessanovidade.com.br/pega-essa-dica-ainda-temos-o-amanha/

Compartilhe