“Salamandra” (2021), dirigido por Alex Carvalho, é um drama que se desenrola com uma narrativa que transita entre o passado e o presente, explorando temas de luto, amor e a busca por identidade. A história segue Catherine, interpretada pela talentosa Marina Foïs, uma francesa que, após a perda do pai, viaja ao Recife para visitar a irmã e acaba se envolvendo com Gilberto, um jovem local vivido por Maicon Rodrigues. O filme, que estreou no Festival de Veneza, apresenta uma trama que, apesar de ambientada nos dias atuais, parece não se atualizar em termos de discurso e representação.
A direção de fotografia de Josée Deshaies é um dos pontos altos, capturando com precisão a atmosfera melancólica da protagonista e a vibrante paisagem urbana do Recife. A primeira parte do filme é marcada por uma crescente coerência emocional, alinhando os sentimentos e sensações dos personagens com o desenvolvimento da relação entre Catherine e Gilberto. No entanto, o roteiro, coescrito por Thomas Bidegain, Alex Carvalho e Alix Delaporte, tropeça ao cair em estereótipos e representações datadas, especialmente na forma como retrata o ambiente e os personagens secundários.
As atuações são um destaque, com Foïs e Rodrigues entregando performances convincentes que sustentam o filme durante seu primeiro e segundo atos. A química entre os dois é crível, o que adiciona uma camada de autenticidade à história. Contudo, o terceiro ato sofre com uma execução apressada e uma narrativa que parece perder o controle das informações estabelecidas anteriormente, resultando em uma conclusão que deixa a desejar.
Salamandra enfrenta dificuldades em lidar com sua própria história. Enquanto o início é contido e o meio é entregue, ambos construindo o sensorial da relação e dando conta da trama, o final não sabe como lidar com as informações que sobram desses dois pontos e se atropelam. As cenas bem decupadas do início dão lugar a passagens apressadas e pouco elaboradas, o tempo aos personagens se transforma em agitação vazia, e os coadjuvantes precisam suprir lacunas tolas.
Apesar de suas qualidades técnicas inegáveis e de uma história que poderia ter sido relevante em outra época, “Salamandra” é um filme que incomoda por sua alma presa décadas atrás, onde discursos e discussões foram mais do que superados. As imagens repetidas de uma representação única antiquada que por tanto tempo foi a única, de histeria e mau caratismo, são um retrocesso em um cinema que busca ser progressista e inclusivo.
Em resumo, “Salamandra” é uma obra que, embora tecnicamente bem-feita e com atuações fortes, falha em se conectar com o espectador moderno devido à sua abordagem desatualizada de temas e personagens. É um lembrete de que, mesmo com um elenco talentoso e uma produção caprichada, um filme precisa de uma narrativa e uma representação que ressoem com os tempos atuais para ser verdadeiramente impactante.
Publicado originalmente em https://www.pegaessanovidade.com.br/pega-essa-dica-salamandra/
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